De vez em quando eu ouço Voz do Brasil. Sim, aquele programa de rádio do governo que rola todo dia de 19h às 20h. É bem aleatório, mas toda vez que deixo rolar acabo ouvindo alguma informação interessante que sempre me faz refletir por um tempo. A última foi sobre uma apreensão da Polícia Federal de mais de 27 milhões de reais em artigos de vestuário vindos da China. Deveria ter algo em torno de 1 milhão de produtos de moda confiscados que não fizeram a menor falta.
O mais surpreendente? Não houve desabastecimento. Qualquer passeio pelo shopping confirmava que o problema das lojas era excesso de estoque e não falta dele.
Pra que, então, esse desespero de produzir quantidades absurdas de itens de vestuário se a humanidade não dá conta de consumir?
Há umas semanas, o Netflix lançou um documentário mega foda sobre a indústria da moda chamado “The True Cost”. E é um soco no estômago.
O diretor Andrew Morgan aborda toda a cadeia da moda e seu tenebroso impacto social e ambiental, que vai desde a produção de algodão e como seus transgênicos estão destruindo o solo e causando a maior taxa de suicídio entre homens adultos do mundo, até os danos ambientais da indústria têxtil, a 2ª mais poluente do planeta e como toda a química que é despejada na natureza está causando doenças graves e má formação de crianças; e, claro, fala das condições aterrorizantes de trabalho em países como Bangladesh (2˚ maior exportador de roupas depois da China), onde as costureiras recebem salários muito baixos (coisa de 10 dólares por mês!), trabalham sob condições absurdamente precárias (que causam milhares de mortes e mutilamentos) e quando reivindicam algum direito tomam porrada (sim, apanham) dos seus “superiores” ou mesmo da polícia.
não dá pra esse tipo de coisa continuar acontecendo em 2015 e a gente fingir que não tem nada a ver com isso
Não dá. Tem uma matéria que diz que o boicote não adianta. Eu concordo que esbravejar e levantar bandeira tipo “Não comprem na Zara” acaba é chamando mais atenção pra marca e, bizarramente, fazendo com que mais pessoas consumam. É isso que acontece na indústria de peles, por exemplo. Por mais alertas e campanhas que existam contra o uso de peles, a produção quintuplicou nos últimos anos.
e a culpa é de quem?
O consumo de produtos de moda aumentou 500% na última década só nos Estados Unidos (e pode ter certeza que brasileiros tem uma bela participação nessa porcentagem americana). Só que esse sistema não se sustenta mais. E uma nova consciência começa a despertar (ainda bem). A Box 1824, bureau brasileiro de pesquisa de tendências e comportamento jovem lançou esses dias o vídeo do seu novo report “The rise of Lowsumerism” que fala sobre a ascenção de um movimento de oposição à essa cultura do excesso, estabelecida através da publicidade no séc.20.
ser mais consciente e consumir menos.
A mecânica do fast fashion fez com que a roupa se transformasse num commodity. Como se fosse qualquer saca de soja ou milho, qualquer produto produzido em larga escala através de máquinas. Só que não é bem assim. Roupa não é um “bem em estado bruto”. A indústria da moda é a que mais utiliza mão de obra humana. Qualquer blusinha de 4 dólares já foi algodão (ou derivado petroquímico se for tecido sintético), passou por diversas lavagens (tratamentos químicos), virou tecido, foi cortada e costurada (estampada ou bordada).
Roupa não é simplesmente um bem produzido em larga escala. Essa produção e esses preços só existem porque tem um monte de gente sofrendo do outro lado do mundo pra que você tenha mais uma peça de roupa entulhada no fundo do armário.
Mudar essa lógica de consumo criada pelo fast fashion e propagada pela internet (sim, nós blogueiras temos muita responsabilidade nisso) é crucial pro planeta. É importante que a gente como consumidor adquiva novos hábitos mais sustentáveis: com menos compras por impulso, mais conserto/ajuste das roupas que já estão no armário, montando um armário cápsula, comprando de marcas locais e ajudando a conscientizar mais pessoas sobre a responsabilidade das suas escolhas de moda.
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